terça-feira, 13 de dezembro de 2011

A minha cor

Aquele tom, aquela cor, aquele amor... Aquela tela branca me encara como se nada ali existisse, eu lembro cada detalhe do dia que a pintei, ao toque de meus dedos sujos de tinta velha. Meu pensamento mergulhado em loucura estampou seu rosto por todo o meu quarto, talvez somente pinceladas sem nexo ou contexto, que colocaram alguns traços vazios que algum dia alguém já julgou real. Sinto que meu amarelo não ilumina mais como antes os dias nublados de melancolia, o meu azul não cintila, não acalma, não está tão leve, enquanto rasga o imenso oceano do meu pedaço de céu, em contraste com o meu vermelho que sangra a minha última pincelada desesperada de você. Doces misturas traçam o castanho dos seus olhos, minha terrena perfeição torneia as curvas de seu rosto, as mais sonhadoras ilusões encharcadas de desejo trazem o leve toque dos seus lábios, os quais me saciam, mas ao cair da noite me parecem tão irreais. Mas mesmo você sendo apenas um delírio de minha insanidade, imerso em minhas galerias de tintas, eu pus várias milhas em meus pés, fugindo de suas cores tão suaves e penetrantes, para encontrar meu lugar a salvo, talvez, mas sempre olhando, sempre atento e esperançoso a ponto de ver seu rosto, entre uma troca de tom e outra pincelada. Medo de caminhar por este caminho borrado? Como posso eu esfarelar o meu coração com meus próprios traços e delírios de perfeição, como deixei que as cores me abandonassem e escorressem entre meus dedos manchando minha alma, se um simples preto e branco esboçariam esse amor? Ao tempo e as próprias pinceladas da sorte, eu lanço essa moça, pois enquanto vivi, ela foi minha janela de sonhos. Quanto a mim o seu pintor nada deixo, tudo levo comigo, nunca mais se ouvirá falar de uma arte que nunca esfria, sempre permanece fresca e quando imaginar a ausência das cores em uma tela branca, se ainda algum filete de sentimento você possuir, nela você encontrará o meu tom a minha cor e o meu amor.

Agnaldo Luiz Karch Pereira

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